A infecção tomara conta de
tudo em apenas um mês, as pessoas que ainda estavam vivas se escondiam como podiam.
Infelizmente eu não consegui salvar muita coisa, já fui parar em campos de
concentração e bueiros, mas em todos que eu fui à infestação passou em cima
como se fossemos insetos, os infectados eram rápidos, fortes e tinham uma fome
por carne humana e graças a esses três fatores quase nenhum homem por mais
armado que seja conseguia combater os infectados, o exercito brasileiro, a polícia militar não
era treinado pra tal façanha, então a elite de combatente que nós tínhamos acabou
sendo facilmente massacrado.
Já estou nesse mundo há
quase um ano, e trabalho sozinho, não aguento mais perdas em minha vida. Eu já perdi
minha esposa e meus filhos para essas coisas e não quero criar mais nenhum laço
com ninguém, por isso eu vivo sozinho nesse mundo. Acho que você sobrevivente
que ler essa carta que escrevi saiba que não é fácil atirar em seu próprio
filho e muito menos atirar em sua mulher que estava grávida, então espero que
compreenda minha situação, eu estava brigando pela minha vida contra algo que
já não era mais a minha família. Vou contar a minha história pra você.
Meu nome é Fabiano Dias, eu
tinha vinte e sete anos quando tudo desmoronou, eu trabalhava no IML de São
Bernardo do Campo, havia acabado de chegar ao trabalho e abri uma das gavetas
para iniciar o dia, peguei meu gravador e comecei meu trabalho. Era um corpo de
um adolescente, havia sido deixado na noite anterior e trajava uma camiseta
Laranja e um Jeans surrado preto, que já estava bem desbotado, o que causou sua
morte havia sido um tirou que atravessará seu coração, peguei meu bisturi e
comecei a abrir o corpo, o mais curioso que eu observei naquele dia, fora que
em suas veias não havia sangue, as veias estavam secas, seus órgãos estavam
secos, estavam totalmente desidratados, achei curioso, quando eu especulava um
de seus braços, vi uma marca de mordida que era mais recente que a bala, havia
pus e vestígios de uma gosma verde. Fiz o terceiro procedimento, comecei a
abrir seu crânio, no momento que retirei o topo, uma gosma verde escorria de
dentro, era muito semelhante a gosma que havia em seu ferimento na perna, seu
cérebro estava preto, achei interessante, totalmente diferente do que eu já
havia visto, chamei meu colega de trabalho Fernando para dar uma olhada, fui ao
banheiro para fazer minha necessidade matinal, urinar. Ao voltar eu vi o corpo
reanimado terminando de comer o rosto de Fernando, foi horrível, sai correndo,
e ao sair vi que tudo estava um caos, pessoas atacando pessoas, tiros,
barricadas policiais, sai correndo para o prédio onde eu morava, aquelas coisas
estavam tão entretidas comendo pessoas e restos mortais delas que eu consegui
passar batido, sem quem viessem atrás, somente uns dois quarteirões depois que
um grupo de infectados saiu correndo atrás de mim, por sorte consegui pular um
muro e despistar eles, não havia movimento dentro do prédio. Peguei o elevador,
ouvia barulhos de rosnados vindo das escadas, cheguei ao meu andar, por sorte
estava tudo calmo, somente barulhos que ainda ecoavam dentro do prédio, mas
nada que a porta de incêndio não aguentasse.
Comecei a ligar feito louco
para minha mulher, por sorte ela atenderá, Vivian acabará de pegar nosso filho
na escola e estava vindo para o prédio, eu estava em estado de choque, não
havia mais medo em mim, eu estava apenas ansioso para ver minha família
novamente, e por sorte algum tempo depois eles vieram, estavam todos são e
salvos por hora. Somente alguns canais estavam a pegar, os outros estavam todos
fora do ar, o telefone fixo já não prestava pra mais nada e a energia caia
constantemente. Você deve estar se perguntando quando matei minha família.
Foram dois meses depois,
quando tudo já havia sido tomado, a gente tinha que saquear casas, lugares,
tudo à surdina para que as “coisas” não viessem atrás de nós, e infelizmente, no
dia que estávamos arrombando os apartamentos já vazios, um infectado derrubou a
porta e mordeu o braço de minha esposa, meu filho, assustado desceu pela
escada, ao matar aquela coisa que atacará minha esposa não demorou mais que 20
segundos, ela se tornará um zumbi, bom, zumbi foi o termo que muitos na
televisão disseram que aquelas coisas eram, eu tinha uma pistola que guardará
em meu criado mudo para emergências, então me defendia com aquilo, infelizmente
tive que me proteger de minha própria esposa que estava a espera de um bebe, no
momento que ela avançou para cima de mim, fechei meus olhos e atirei mais uma
vez, o tiro ecoou por todo o prédio a porta de incêndio ao meu lado cedera,
três zumbis a derrubaram e vieram para me atacar, infelizmente, um deles era
meu filho, tive que mata-lo com uma dor imensa no em meu coração , depois desse
dia, eu me encontrava sozinho, fiquei sem dormir por dias.
Semanas se passaram, eu
ainda podia ouvir minha esposa me chamando de amor, e meu filho gargalhando e
brincando pela casa, infelizmente eram só pensamentos. Alguns meses depois, o
alimento começou a acabar mais uma vez, todos os apartamentos vazios foram
revirados, e o mercado próximo havia sido limpo por saqueadores, tive que sair
de meu “esconderijo” para poder sobreviver, passei por esgotos. Incrível como a
falta de seres humanos fazendo suas necessidades diárias, como tomar banho,
usar o sanitário, lavar louça entre outras coisas que vá para o esgoto torna
aquele lugar incrivelmente acessível, o cheiro já nem era tão forte, eu já estava
acostumado com o cheiro forte de carne pútrida, nada disso me incomodava mais.
Fui parar em um campo de
concentração de sobreviventes uma vez, foi uma péssima ideia, as barricadas não
aguentaram os inúmeros infectados prensando o portão principal, um dia ele
cedeu e o resto vocês já sabem, mortes e mais mortes, o que resulta em mais
infectados, eu já havia memorizado todos os esgotos depois de meses
perambulando por eles, então foi fácil de escapar daquela situação,
infelizmente, muitas pessoas que estavam lá não faziam ideia de como escapar, o
sonho de ir para qualquer lugar livre disso já não era mais possível, todos os
aeroportos estavam fechados, afinal não havia pessoas para operar os aviões,
olhava os jornais no começo da epidemia pensando qual lugar estava livre
daquela praga, mas todos estavam na mesma situação, quando o alimento ficou mais
escasso ainda , tive que me submeter a comer animais, um dia, matei um
cachorro, um ser que para mim sempre foi tão dócil e puro me serviu como
alimento, no momento fiquei com uma carga na consciência, mas depois pensei que
entre as duas vidas eu escolheria a minha, então o resto você já sabe.
Já faz quase um ano que tudo
aconteceu, se você estiver lendo isso, provavelmente estarei morto, eu espero não
estar morto, espero ter perdido esse texto em algum lugar por ai, mas caso não
tenha perdido e isso for encontrado junto ao meu corpo, espero que você saiba
que eu amei muito minha família, nunca quis mata-la, nunca quis ferir e matar
animais, tudo que fiz, foi pela sobrevivência, espero que você absorva algo aqui
escrito, sobre minha experiência nesse mundo. E espero do fundo do meu coração,
que você seja mais esperto e melhor preparado que eu.
10/12/2014
Fernando Dias
Em memória de Vivian Neves Dias, João Pedro Neves Dias e a
pequena Clara Neve Dias.